Passagens Jardim Angela- concurso

As escadarias e passagens públicas fazem parte do sistema de mobilidade da cidade, sendo essencial considerar sua conexão com outros elementos do sistema, seja calçadas adjacentes à área de intervenção ou a outros modais como as conexões com o transporte público e o viário estrutural. Tais pontos de articulação entre diferentes elementos do sistema se constituem como marcos e pontos de grande potencial simbólico, de modo que a proposta dá grande importância aos espaços de conexão das passagens com as vias transversais. As esquinas, assim como as praças, tradicionalmente são pontos da cidade com a vocação para apropriação dos moradores para usos de estar e encontros, de modo que serviram como referências simbólicas à concepção dos “cruzamentos” entre as passagens e as ruas transversais. Identificou-se ali grande potencial a abrigar usos de estar, justificando soluções de alargamento do espaço do passeio e elevação do cruzamento (lombofaixa) que atuam como elementos indutores da redução de velocidade dos veículos, demarcando nestes pontos a prioridade ao pedestre essenciais nas situações em que a travessia dá continuidade ao percurso entre duas passagens distintas.


A proposta prevê a construção de novas estruturas de rampas e escadas, dando grande importância aos aspectos construtivos de acordo com os conceitos de boa relação entre custo e benefício. Propõe-se a utilização de peças pré-moldadas de concreto, que garantem maior controle da regularidade das medidas finais dos degraus e também da resistência e durabilidade do material; instalação de tubulação para recolhimento de águas pluviais, encaminhadas através de grelhas instaladas nos patamares das escadas, evitando o escoamento superficial que dificulta o uso das escadas em dias de chuva; e trechos de vegetação que tem função de contribuir à infiltração das águas pluviais no solo além de tornar o ambiente mais belo e aprazível, inclusive com a possibilidade de abrigarem arbustos ou trepadeiras a cobrir os muros laterais com vegetação.


A constituição das entradas das passagens como pontos de encontro e estar, além de atender a uma demanda do bairro, procura também intensificar o movimento de pessoas junto às passagens, minimizando a sensação de insegurança que muitas vezes tais locais evocam, segundo relatos colhidos entre usuários destes espaços. Ao longo das passagens também a proposta prevê intensificar o encontro e estar através de soluções como: diversidade das dimensões e formatos dos patamares para possibilitar diferentes apropriações pelos usuários para usos de estar e lazer, permitir acesso aos imóveis com entradas voltadas às passagens, incrementar a iluminação para minimizar a sensação de insegurança e aumentar a atratividade destes locais, melhorar a acessibilidade e circulação através da instalação de corrimãos e de trechos rampados paralelos às escadas, visando aumentar o conforto dos usuários, facilitando sobretudo o transporte objetos em carrinhos ou de pedestres empurrando bicicletas.


Na proposta para o concurso Passagens Jardim Ângela procuramos um equilíbrio entre o uso eficiente das soluções construtivas para atender de forma eficaz à função de passagem pública e de mobilidade, mas também amplificar ao máximo o potencial de apropriação para outros usos, como de lazer e estar. O concurso foi promovido pelo Instituto Cidade em Movimento (Institut pour la Ville en Mouvement), instituto cujo “objetivo é acompanhar as transformações de centros urbanos em todo o mundo e contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de mobilidade, que combine consciência e prazer na movimentação pelas cidades”. Procuramos compreender que os espaços públicos não são estáticos e que é característica do bairro do Jardim Ângela dinâmicas de apropriação e transformação dos espaços, buscando soluções formais que incorporem tais manifestações sem prejudicar o bom funcionamento das passagens.

/acesse aqui a proposta completa/

local
São Paulo, SP
ano
2017
arquitetura/autores
Mayra Rodrigues e Régis Sugaya